Desde que nascemos com a
condição de mulher que a sociedade espera que casemos e sejamos mães. Todos
acham que pelo facto de sermos mulheres temos que querer ser as esposas e mães
perfeitas.
Pois eu nasci fora da norma.
Nunca sonhei em casar e ser a esposa perfeita, e nasci sem espírito maternal.
Pois é, não queria ser mãe, não queria ser responsável por alguém de forma
incondicional.
Não queria abdicar de viajar, de sair, não queria passar as noites a mudar fraldas sujas, não queria aturar birras, não queria deixar de fazer fosse o que fosse para me dedicar à educação de uma criança. Não queria abdicar da minha vida, por alguém que não conhecia, e que podia nem merecer.
A minha vida estava bem e recomendava-se, filhos, não
obrigada!
Não queria ser como a minha mãe, que tantas vezes ouvi dizer
“-Não tenho fome…” para que os filhos pudessem comer, como se não soubéssemos
as dificuldades que passavam para nos criar.
Não, não queria ser mãe. Não queria ser uma mulher que vive
em função dos filhos, como se não houvesse mais vida para além deles, não
queria ser uma mulher triste por não puder dar aos filhos o que eles merecem.
Não, não queria nada disto para mim, eu ia ser diferente, ia ser feliz!
Mas a verdade é que a vida me trocou as voltas, e me pregou uma
partida. Aos 35 anos engravidei, a tomar a pílula. E mesmo não sendo planeada,
ou desejada, depois de me atirar para o chão, chorar, e querer fugir, optei por
seguir com a gravidez. Uma gravidez que até aos 3 meses me obrigou a correr
para a casa de banho de 10 em 10 minutos, para vomitar (a miúda já tinha mau
feitio) mas que à medida que foi evoluindo me foi dando a conhecer o prazer de
estar grávida.
E no momento em que a minha filha nasceu percebi que tudo
tinha mudado para sempre.
Nessa altura compreendi que pudemos amar alguém
incondicionalmente sem deixar de nos amar a nós.
Que pudemos continuar a ter
vida, mas com outras opções, que pudemos viver tudo na mesma, mas de outra forma.
Entendi as dificuldades de ser mãe solteira, numa sociedade como a nossa, que se mostra muito avançada mas que ainda aponta o dedo.
Aprendi a dar, sem nada esperar em troca, apenas sorrisos.
Aprendi que é possível continuar a ser mulher, mesmo sendo mãe, com a diferença que sou muito mais rica.
Descobri que afinal ser mãe, não era tão mau como eu pensava,
descobri que o espírito maternal não nasce connosco, nem nos pode ser imposto pela sociedade, mas que pode vir a fazer parte
de nós.
Descobri que afinal ser mãe, também é ser feliz, só que de mão dada com o
amor incondicional.
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